Há álbuns que chegam como reencontros. ECHO, de Jin, é um desses casos. O álbum veio com a sensação de uma conversa íntima com quem já o escutava com atenção. É o tipo de álbum que parece ter nascido entre memórias e referências que, de algum jeito, nos pertencem também. Quando conheci o trabalho do Jin, me veio à cabeça que a voz dele funcionaria perfeitamente nesse universo pop-rock sentimental, de melodias cheias de emoção e refrões que grudam de um jeito bonito. ECHO entrega isso, tudo isso sem que a essência do artista se perca em nenhum momento. A assinatura vocal de Jin, que antes explorávamos em momentos pontuais da discografia do BTS, agora ecoa com liberdade e autenticidade.
O single Don’t Say You Love Me já antecipa o tom emocional do disco. Jin opta por uma voz soprosa, diferente de seu habitual ataque firme, e o resultado é surpreendentemente íntimo. Há angústia nas entrelinhas, uma despedida dolorosa que se comunica mais pela interpretação do que pela letra em si. É o tipo de interpretação que embriaga devagar, porque carrega o peso de não saber como dizer adeus. O instrumental remete a nomes como Jonas Brothers e Post Malone, mas a canção mantém uma identidade própria, como uma balada pop que transita entre a vulnerabilidade e a necessidade de seguir. e seu timbre comunica o que as palavras mal conseguem: a angústia de ainda amar, mesmo quando é hora de soltar. Ele nos faz sentir, antes de entender.
Em Nothing Without Your Love, tudo cresce. A trilha é inspiradora, quase cinematográfica. A sensação é de vento no rosto. Daria para colocar essa faixa como trilha de um momento de recomeço. Seja uma viagem sozinha, uma audição corajosa, ou até mesmo apenas para aquela corrida na esteira da academia, com o coração cheio de planos. Uma faixa que te pega pela emoção positiva, pelo ritmo que dá vontade de seguir em frente.
Aí vem Loser (feat. YENA), e o álbum nos leva direto pra um lugar mais lúdico e leve. Há uma estética musical adolescente, algo entre Camp Rock e os primeiros discos dos Jonas Brothers. A forma como Jin canta “like a laser (loser, loser)” me fez visualizar uma cena: ele surgindo no palco, vindo do nada com um grupo dançando, sorrindo, existindo sem medo do rótulo. É teatral, nostálgico, divertido. E sim, há algo artistas Disney aqui também. Mas novamente, com o vocal de Jin tomando a frente de forma inconfundível.
Rope It é um deleite à parte. Com um pé no country pop, é o tipo de faixa que poderia estar em Footloose 2, ela pede chapéu, bota, luzes quentes e uma coreografia contagiante. Mesmo assim, Jin não tenta fazer um sotaque country ou ajustar sua voz ao estilo. Canta com sua própria voz, sem disfarces, o que torna a experiência ainda mais autêntica.
Mas é em Background que o tempo parece parar. Jin desce o tom, canta com a alma em baixa frequência, uma música que parece pulsar junto com o coração da gente. A linha vocal grave conduz a faixa como se Jin estivesse contando um segredo. O efeito da palavra “background” ecoando, quase como se estivesse se fundindo ao nosso próprio tempo interno, é uma das escolhas mais sensíveis do álbum. É mais do que uma sensação de faltar o ar. É como se o pulmão se enchesse ainda mais de oxigênio. Como se o som dele ocupasse espaço no corpo da gente, nos preenchendo de dentro pra fora. Talvez por vir depois de uma sequência emocionalmente construída, ela atinge com mais força. E permanece por um tempo.
Fechando o álbum, To Me, Today traz de volta a energia do rock adolescente, com refrão marcante e guitarras vibrantes. Mais uma vez, brinca com estilos sem perder a essência. Ele entrega versatilidade, mas nunca se dissolve nos gêneros. Ele os absorve. Jin reafirma a versatilidade de Jin sem abrir mão de sua identidade. Há consistência, mesmo na diversidade.
Apesar de passear por estilos distintos, o álbum nunca se dispersa. Há um fio condutor invisível: Jin. Ele não se esconde atrás dos gêneros que interpreta. Pelo contrário, se mostra ainda mais nítido em cada um deles. Ao invés de se moldar às referências, ele as absorve e as traduz com sua própria linguagem. É como se dissesse: “posso ser tudo isso, e ainda assim ser só eu”.
Talvez o álbum tenha me tocado tanto porque, de alguma forma, me levou de volta à adolescência. Talvez porque somos da mesma geração, e ele tenha escutado as mesmas coisas que eu. Há aqui um convite ao retorno, não ao passado em si, mas ao sentimento de quem fomos e, de certa forma, ainda somos. Talvez por isso o disco soe tão familiar. Talvez por isso, soe tão verdadeiro. Mas também porque ECHO fala da liberdade de ser múltiplo, de ter referências diferentes e não precisar escolher só uma. Não somos uma coisa só, e Jin mostra isso com delicadeza, força e autenticidade.